terça-feira, janeiro 03, 2006

Capítulo Oitavo - Dos riscos

Aqui está minha primeira tentativa de crônica, vejamos a aceitação. Comentem.

Tudo que precisa é uma mentira


Ela é um amor de menina, mas será que ela mentiu? Não estou chamando-a de mentirosa, claro que não. É que o fato me despertou a curiosidade. A declaração de amor seria verdadeira ou um simples cumprimento protocolar para a boa convivência? Antes que essa ideia fique mais-que-confusa, vou contar um ocorrido.

Numa dessas conversas virtuais que levavamos uma amiga e eu, fi-la saber da existência de uns escritos meus. Demonstrou pronto interesse e, havendo passado-se não mais que um minuto, veio o veredicto: "Amei!". Por mais que o resultado tenha sido positivo, deu-me uma cisma. Era impossível que tivesse lido mais que alguns parágrafos do menor dos textos mesmo que o fizesse com grande velocidade. Que fazer?

Ponderei as opçoes e sutilmente mostrei-a minha inquietação. Justificou ter corrido brevemente os olhos e desfrutado rápida e prazeirosamente do conteúdo.

Será que ela mentiu? Mas ela é um amor de menina!

Foi então que dei-me fazendo também, uso tão leviano da palavra amor. E como agravante: no reino de minha própria consciência! Daí o motivo de toda essa vã filosofia: estaria a palavra em si perdendo seu valor clássico e dando espaço para nova expressão mais intensa ou seria apenas um sintoma de que o Amor está tornando-se ordinário? Convenhamos que a segunda teoria é a mais desesperadora em uma geração adestrada pela mídia para acreditar nos ideais do "mais nobre dos sentimentos". Afinal, amar não é quando todos os filmes e músicas começam a finalmente fazer sentido?

Ainda com tantos exemplos, fica difícil dizer onde estão as tão abstratas fronteiras do sentimento, pensar se é tudo um estado de espírito ou ainda um mal que aflige a frágil natureza humana. Amor de irmão, amigo, de mãe, de filho ou carnal (e deixem os freudianos se preocuparem com os intermédios), seriam todos parentes por sobrenome ou uma simplificação de idéias completamente diferentes? Me sinto mais confortável ao aceitar a segunda hipótese. Abalar um não deveria refletir noutro, afinal, nenhuma vez que minha mãe falar que me ama quero pensar: "Será que ela mentiu? Mas ela é um amor de menina!".
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