terça-feira, outubro 24, 2006

Capítulo Décimo Segundo - Cronicamente Viável

A vida não é suficientemente longa. Não encontramos o tempo de aprender e ensinar tudo aquilo que gostaríamos e, por revolta, alguns decidem encurtá-la. Não faço referência ao suicídio e sim à auto-destruição: bebidas, cigarros, esforços que nos levam aos limites físicos e intelectuais. A autofagia é ilógica, porém, poética. Ela encontra nessa poesia de viver não mecanicamente sua lógica e seu sentido expressivo.
A arte muitas vezes torna-se bela justamente por arrancar do artista um pedaço de seu sofrimento. Apropria-se dele, digere-o e forma assim sua identidade.

domingo, outubro 08, 2006

Capítulo Décimo Primeiro - Doenças Crônicas

Por que eu, nós, preocupamo-nos em demasia com a felicidade? Conseguisse desviar metade da energia que aplico nos pensamentos inquisitivos para – abstendo-me de palavras ou explicações lógicas – simplesmente ser feliz, é provável que fosse o novo Dalai.

Nada é assim, tão simples, porém. Aparenta quanto mais o desejo de tranqüilidade sobressai , maior meu arrebatamento e inquietude paradoxal da busca do calmo, do sereno. Mudam os tempos e aquilo que um dia referi-me como mar revolto, transmuta em maré mansa, sentado na praia, com brisa oceânica. (Ah, minhas aulas colegiais).

Confessionalmente, a única tranqüilidade que jamais encontrei revelou-se em aulas colegiais de biologia. Naquela época meeira, desinteressava-me tão enfaticamente aquele estudo que, recluso naquela carteira em meu canto da sala, a paz e plenitude vinha ao meu encontro sendo eu completamente absorto.

Talvez por isso, relevar completamente a felicidade, tenha, nestes instantes, sido feliz. Fato é que a felicidade dispara com absurda ligeireza assim rompida a inocência sobre a existência.

Faz-me rir a idéia de que a incessante busca pelo conhecimento seja sintomática: a infelicidade tomando nossos espíritos. Que nos difere dos animais, mostrando satisfação com sua natureza, somente ao suprir suas necessidades básicas?

Observo-os, incapazes de articular vontades e satisfazendo-as com notável virtuosidade, não se deixando abalar com pormenores. Matam-me de inveja.

Novamente, dou a inquirir a Sabedoria em busca de soluções grafáveis. Haveria, em algum momento da evolução, ocorrido mutação em nossa espécie? Uma combinação gênica que, enquanto nos faz capazes de descrever nossa natureza também impede de apreciar sem enfadonhos tudo que somos capazes de, por fim, entender plenamente?

Poderia alguém reprimir tão desgostosa condição?

Possível ser essa a consistência das doutrinas pregando a libertação da mente. Libertar-se não passaria de uma animalização em busca da felicidade. Mesma animalização bela por vezes encontrada na falta de ciência das pessoas que conseguem transmitir sabedoria mesmo sem conhecer palavras sábias. Nesses instantes, a vida é um mistério que, por sua natureza secreta, nos faz mais felizes.

Deve haver explicações escondidas dentro de mim, mas não carrego arrependimentos.

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