Capitulo Nono
Terceto
Ela passava roupa na sala enquanto, no quarto, a filha mais nova fazia alguns barulhos. Cada nuvem de vapor do ferro de passar a fazia sonhar um pouco mais alto. Lembrava até, de quando mais nova, o cheiro da roupa quente que a mãe pedia para carregar. "Não amassa a camisa do pai", dizia, e novamente o vapor a trazia ao presente.
- Sarah! Vem me ajudar menina.
Que será que anda fazendo essa garota? É a terceira vez que chamo.
Na cama, a menina gemia de frio enquanto o sol batia levemente em seu corpo nu. A camisa engomada na porta do guarda roupas lembrava-a de ajudar a carregar a roupa.
O cheiro do feijão cozido já chegava à sala: era preciso desligar o fogo. Não posso deixar essa roupa assim. Alguem tem de olhar a comida:
- Ô Sarah! Mas que saco!
Depois que a mais velha mudou-se para a cidade, ela devia ter começado a ajudar um pouco mais, mas depois desse tempo, até agora nada.
Suava. O vapor quente no rosto, o sol escaldava na janela e a panela ia apitar a qualquer instante.
Rolava desconfortável na cama e a lã das cobertas sob seu corpo lhe fazia coçar as coxas. Tinha de se levantar, enfrentar a situação. Vou contar para ela hoje.
A panela soou o esperado apito. O cheiro da comida já chegava ao quarto.
Ela largou o ferro sobre a tábua e correu para desligar o fogo.
A filha correu para a cozinha e percebeu seu atraso. Havia esquecido até as preocupações naquele instante: a panela apitou avisando o feijão pronto e o arroz queimado. Que descuido o dela!
- Sarah, por que não desceu antes?
A caçula, tímida, não respondeu e começou a arrumar a mesa.
Abriu as janelas para sair o cheiro do arroz queimado e pensou na mãe. Ela vai compreender, já passou por isso também. Pousou a mão no ventre nu.
O ferro havia tombado e feito uma feia marca amarela na ponta da camisa. Não faz mal, fica dentro da calça. E olhou a menina dispondo os pratos: essa não tinha jeito, devia ser mais como a irmã.
Era curioso. A mais velha nunca conheceu o pai, passou a infância ajudando a mãe e conheceu o peso de um estomago vazio. Essa, sempre teve tudo e ainda, era tão mais rebelde que a outra.
Como mãe temia o futuro. Que será que iria aprontar quando crescesse?
A filha decidiu fazer uma ligação importante. Pensava ter um pequeno ataque cardíaco a cada toque do telefone. Foi então que ouviu a tão familiar voz:
- Alô?
- Oi...
- Oi meu amor! Tudo bem?
- Estou esperando um filho.
Sarah empalideceu. Não sabia o que a mãe havia escutado mas assustou-se com a expressão em seu rosto. O telefone foi ao chão.
Ela rapidamente pegou-o e ouviu um choro miúdo.
- Quem está falando?
- Sarah, cuida da mãe que eu estou voltando pra casa.
No final, pensava a mãe: eram as três todas iguais.
Ela passava roupa na sala enquanto, no quarto, a filha mais nova fazia alguns barulhos. Cada nuvem de vapor do ferro de passar a fazia sonhar um pouco mais alto. Lembrava até, de quando mais nova, o cheiro da roupa quente que a mãe pedia para carregar. "Não amassa a camisa do pai", dizia, e novamente o vapor a trazia ao presente.
- Sarah! Vem me ajudar menina.
Que será que anda fazendo essa garota? É a terceira vez que chamo.
Na cama, a menina gemia de frio enquanto o sol batia levemente em seu corpo nu. A camisa engomada na porta do guarda roupas lembrava-a de ajudar a carregar a roupa.
O cheiro do feijão cozido já chegava à sala: era preciso desligar o fogo. Não posso deixar essa roupa assim. Alguem tem de olhar a comida:
- Ô Sarah! Mas que saco!
Depois que a mais velha mudou-se para a cidade, ela devia ter começado a ajudar um pouco mais, mas depois desse tempo, até agora nada.
Suava. O vapor quente no rosto, o sol escaldava na janela e a panela ia apitar a qualquer instante.
Rolava desconfortável na cama e a lã das cobertas sob seu corpo lhe fazia coçar as coxas. Tinha de se levantar, enfrentar a situação. Vou contar para ela hoje.
A panela soou o esperado apito. O cheiro da comida já chegava ao quarto.
Ela largou o ferro sobre a tábua e correu para desligar o fogo.
A filha correu para a cozinha e percebeu seu atraso. Havia esquecido até as preocupações naquele instante: a panela apitou avisando o feijão pronto e o arroz queimado. Que descuido o dela!
- Sarah, por que não desceu antes?
A caçula, tímida, não respondeu e começou a arrumar a mesa.
Abriu as janelas para sair o cheiro do arroz queimado e pensou na mãe. Ela vai compreender, já passou por isso também. Pousou a mão no ventre nu.
O ferro havia tombado e feito uma feia marca amarela na ponta da camisa. Não faz mal, fica dentro da calça. E olhou a menina dispondo os pratos: essa não tinha jeito, devia ser mais como a irmã.
Era curioso. A mais velha nunca conheceu o pai, passou a infância ajudando a mãe e conheceu o peso de um estomago vazio. Essa, sempre teve tudo e ainda, era tão mais rebelde que a outra.
Como mãe temia o futuro. Que será que iria aprontar quando crescesse?
A filha decidiu fazer uma ligação importante. Pensava ter um pequeno ataque cardíaco a cada toque do telefone. Foi então que ouviu a tão familiar voz:
- Alô?
- Oi...
- Oi meu amor! Tudo bem?
- Estou esperando um filho.
Sarah empalideceu. Não sabia o que a mãe havia escutado mas assustou-se com a expressão em seu rosto. O telefone foi ao chão.
Ela rapidamente pegou-o e ouviu um choro miúdo.
- Quem está falando?
- Sarah, cuida da mãe que eu estou voltando pra casa.
No final, pensava a mãe: eram as três todas iguais.