segunda-feira, dezembro 26, 2005

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Capítulo Sexto - Do ponto imóvel

Após um bom tempo me abstendo deste blog, finalmente um post. Sem mais.

Roda, moinho.


Ele abriu os olhos, ainda inquietos, como se despertasse subitamente de uma pesadelo. Julgou e condenou a própria insônia. Sentou-se na cama, observou a esposa por alguns instantes avaliando sua respiração. Encarou-a e perdeu-se no tempo, não se sentia acordado e tampouco dormindo. Esfregou os nós dos dedo e tentou inutilmente estála-los inumeras vezes, antes de perceber a dor que causava nas mãos.
Rumou à ampla sala do apartamento e sentou num canto, no chão. Não sabia explicar, mas decidiu por de lado as comodidades da mobília. Do canto, a sala parecia diminuir. Lembrou da mãe, dos amigos que foram, sentiu o peito apertar. A sala continuou a diminuir. A saudade veio. O ar faltou. Os dedos doíam. Tinha que sair. Lá não cabia. Quarto. Calça. Tênis. Porta. Escada. Rua!
Enquanto os pulmões se enchiam da brisa fresca, notou o relógio da alta torre na avenida próxima. Três da manhã. Correr pareceu-lhe boa idéia. Girou para a esquerda sem nem perceber os olhares questinadores do porteiro e deu-se velocidade. Primeira volta na quadra: havia muito que não se dava o tempo de apreciar o sereno caindo à fraca luz dos postes da rua. Segunda volta: os indigentes lembravam gárgulas, apenas com os olhos animados que o acompanhavam pela rua. Terceira volta: sentiu o sangue quente levar um pouco do esquecido vigor às suas velhas pernas.Quarta volta: pulou mais uma vez as crianças de pedra e parou de pensar. Quinta volta. Sexta volta. Sétima. Oitava? Perdeu a conta e acelerou.
Já nem sabia mais dizer quanto tempo passara. As padarias começavam a abrir e o cheiro do pão fresco embrulhava-lhe o estômago. Os primeiros raios de sol chegavam enquanto sereno e suor misturavam-se encharcando e resfriando o corpo cada vez mais quente ao disfarçar as lágrimas que escorriam.
A respiração falhava, o peito gemia. Os músculos gritavam. Sua cabeça ia cada vez mais rápido. Pensava em tudo e nada. Acelerou. Mais uma volta. E outra. Outra. Ia chegar em algum lugar, tinha certeza. Ia quase completando outra quando sentiu uma lança transpor seu peito. Foi ao chão, catatônico. Viu o porteiro, a esposa, as luzes piscantes da ambulância, os paramédicos... Infarto do miocárdio. Nada ouvia. A ambulância fez mais uma volta à procura do caminho mais rápido. Morreu a caminho do hospital tentando lembrar em que volta do mundo ficou a felicidade.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

oi, menino lindo ;D
o texto apesar de depressivo tem qualidade, vc sabe ^^
sou suspeita a falar! muito bom!

saudades de vc, oká? vamos sair

beijinhoooos

12:51 PM  
Anonymous Anônimo said...

naaaaaaaao... qualidade nenhuma... fico imaginando o que ele vai fazer com essas palavras la naquele mundo cheio de numeros ano que vem....

12:52 PM  
Anonymous Anônimo said...

ah... eh na bienal da arquitetura..... perdeu....

12:52 PM  

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