segunda-feira, dezembro 26, 2005

quinta-feira, 27 de outubro de 2005

Capitulo Quinto - Da areia e da ampulheta

Quanto tempo é tempo o suficiente? A resignação vai, vem, sibila um pouco em cada canto. Vem também, o medo da aceitação. O Tempo há de resolver.
A saudade faz-se cada vez mais viva, e sobre mim, é só o que tenho a dizer. Pros leigos hoje tem uns textinhos, um do Saint-Exupéry e um meu, não necessariamente nessa ordem.O do Saint-Exupéry decidi colocar devido a pegunta que me faço: quanto tempo de luto é tempo o suficiente? Creio que nunca vou superar isso, faz parte de mim agora. E depois do meu texto, coloco as letras da música que cito, meio que uma bibliografia.

Texto 1:

La Casa


"Como se faz uma casa?". Pensava eu, sentado à guia, à calçada, olhando os trabalhadores e suas enxadas. Cada saco de cimento vai levando um pouco de história, e o futuro que ele carrega torna-se quase palpável. Enquanto o sol ardia logo acima, as sombras se estreitavam e avaliava comigo mesmo se, aqueles ali na labuta, sabiam o que estavam construindo. Não digo da capacidade do mestre de obras, mas se sabiam que cada tijolo do quarto do bebê ia ter a história de uma vida pra contar. Nessas ponderações meio que desconexas, me veio à cabeça uma musica de Sergio Endrigo e coloquei-me a cantar em voz alta:
- Era una casa molto carina, senza solffitto, senza cucina...
Foi quando sentou ao meu lado um dos carregadores de cimento para servir-se do almoço. Já haviamos travado conhecimento anteriormente, e logo perguntei:
- Ei, amigo, como se faz uma casa?
Estranhando um pouco a pergunta, foi-me respondendo lentamente a pergunta entremeio as mastigadas:
- Cava-se a fundação, prepara-se o terreno...
E foi me bombardeando com dados técnicos que não me despertaram interesse, não naquela hora. Buscava saber quais as fundações da casa da música. A casa engraçada, sem teto, sem nada. Como sustenta-se uma casa sem paredes?
Nessa hora, quando as palavras do colega pareciam distanciar-se qual num barco pro horizonte, dei-me conta da casa que era descrita. Percebi que em cada memória de todas as casa que já conheci, a cor das parede era coadjuvante. Também o teto, chão e todo resto, apesar de serem a cola de tudo, não faziam a casa. A casa acontecia entre eles, tinha vida, e os protagonistas passeavam tornando, mesmo as pré-fabricadas, únicas com suas histórias. A casa em si, cimento e colunas, virava efêmera.
Levantei-me, agradeci a explicação, e andei no meio de todas aquelas casas enquanto projetava a minha, sem usar um único grão de areia.

Letras:

La casa
Sergio Endrigo


Era una casa molto carina
senza soffitto, senza cucina;
non si poteva entrarci dentro
perché non c'era il pavimento.
Non si poteva andare a letto
in quella casa non c'era il tetto;
non si poteva far la pipì
perché non c'era vasino lì.
Ma era bella, bella davvero
in Via dei Matti numero zero;
ma era bella, bella davvero
in Via dei Matti numero zero.

A Casa - Versão em português, obviamente

Era uma casa muito engraçada
não tinha teto não tinha nada
ninguém podia entrar nela não
porque na casa não tinha chão
ninguém podia dormir na rede
porque na casa não tinha parede
ninguém podia fazer xixi
porque pinico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero
na rua dos bobos número zero
Mas era feita com muito esmero
na rua dos bobos número zero

Texto 2:

Conheci, vocês talvez conheceram, essas famílias um pouco estranhas que conservavam à mesa o lugar de um morto. Negavam o irreparável. Mas esse desafio nunca pareceu consolador. Dos mortos devemos fazer mortos. Porque então eles reencontraram, em seu papel de mortos, uma outra forma de presença. Mas aquelas famílias impediam a volta deles. Faziam deles ausentes eternos, convivas atrasados por toda a eternidade. Trocavam o luto por uma espera sem sentido. E essas casas me pareciam mergulhadas em uma inquietude irremediável, muito mais dolorosa que a tristeza. Do piloto Guillaumet, o último amigo que perdi e que desapareceu no serviço postal aéreo, meu Deus! aceitei a morte. Guillaumet não mudará mais. Nunca mais estará presente, mas também nunca mais estará ausente. Desapareceu seu lugar à minha mesa, este ardil inútil, e fiz dele um verdadeiro amigo morto.

Antoine de Saint-Exupéry


É... é isso aí..

9 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Oi nenê!! Seu texto me lembrou Dogville... as casas eram tão reias mesmo sem nada... só as pessoas se comportando como estando em casa. Enfim... Ta td bem sim, voltei com o dani. Estou na casa dele por sinal, matando aulas. :( Tudo de bom pra vc, melhoras em tudo!

12:46 PM  
Anonymous Anônimo said...

Quando eu era criança varias vezes eu fui dormi ouvindo essa musica...lembro d como minha mae me cobria antes d começar a cantar, de como eu lutava contra o sono pra escutar as musicas até o final, de como eram felizes as noites em q dormia ouvindo essa musica, e se fechar os olhos posso até lembrar, com um pouco d dificuldade, do som da voz q cantava essa e outras musicas para mim...mas sinceramente...nao me lembro das cores da parede, da minha cama, do lustre, ou d qualquer outra peça d decoraçao do meu antigo quarto....e mais uma vez se faz verdadeira a frase: o essencial é invisivel aos olhos!
*Fiquei com saudade da minha infancia!!!!!

Adoro seus textos e adoro mais ainda a sua ilustre e complexa pessoa!!=]

Bjos

12:46 PM  
Anonymous Anônimo said...

Mto/o/q/dizer...Pouco/espaço/sem/a/tecla/espaço....Melhor/ao/vivo!

12:47 PM  
Anonymous Anônimo said...

dps q passar d 5 comentarios vc escreve o otro texto?..pois bem...vc tera mais d 5 comentarios....

12:49 PM  
Anonymous Anônimo said...

..comentarios inuteis...mas sao comentarios...

12:49 PM  
Anonymous Anônimo said...

e com esse sao seis!...
..Agora vai escreve um otro texto!

Bjus pra ti qrido!

12:49 PM  
Anonymous Anônimo said...

nossa,tbm lembrei de dogville como a menina do primeiro post hehe :)
gostei tbm do texto da casa,você parou mesmo na calçada e perguntou sobre a obra ou imaginou pra escrever?
imagino quanto seu dia deve ser interessante! :)
Bjos!

12:50 PM  
Anonymous Anônimo said...

Inicialmente:Dummie de cu e rola,certo?Vc caiu do MSN,entao vai por aki mesmo...Nao fica tristinho,nao!O etapa so tem espaço pra uma depressiva de pessimo humor,certo?hahahah!Bjus,meu querido!

12:50 PM  
Anonymous Anônimo said...

nêêêê

texto foda, cara!
denovo, né? se superando sempre... esse meu amigo inteligente, viu!! ;x
tô com saudades de vc, saca? e é claro q eu vou pedir para um dia vc escrever um texto pra mim um dia. tem como? :D

estou ouvindo a música, é ótima!
..o que seria dessa minha noite sem vc?

12:51 PM  

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