domingo, outubro 08, 2006

Capítulo Décimo Primeiro - Doenças Crônicas

Por que eu, nós, preocupamo-nos em demasia com a felicidade? Conseguisse desviar metade da energia que aplico nos pensamentos inquisitivos para – abstendo-me de palavras ou explicações lógicas – simplesmente ser feliz, é provável que fosse o novo Dalai.

Nada é assim, tão simples, porém. Aparenta quanto mais o desejo de tranqüilidade sobressai , maior meu arrebatamento e inquietude paradoxal da busca do calmo, do sereno. Mudam os tempos e aquilo que um dia referi-me como mar revolto, transmuta em maré mansa, sentado na praia, com brisa oceânica. (Ah, minhas aulas colegiais).

Confessionalmente, a única tranqüilidade que jamais encontrei revelou-se em aulas colegiais de biologia. Naquela época meeira, desinteressava-me tão enfaticamente aquele estudo que, recluso naquela carteira em meu canto da sala, a paz e plenitude vinha ao meu encontro sendo eu completamente absorto.

Talvez por isso, relevar completamente a felicidade, tenha, nestes instantes, sido feliz. Fato é que a felicidade dispara com absurda ligeireza assim rompida a inocência sobre a existência.

Faz-me rir a idéia de que a incessante busca pelo conhecimento seja sintomática: a infelicidade tomando nossos espíritos. Que nos difere dos animais, mostrando satisfação com sua natureza, somente ao suprir suas necessidades básicas?

Observo-os, incapazes de articular vontades e satisfazendo-as com notável virtuosidade, não se deixando abalar com pormenores. Matam-me de inveja.

Novamente, dou a inquirir a Sabedoria em busca de soluções grafáveis. Haveria, em algum momento da evolução, ocorrido mutação em nossa espécie? Uma combinação gênica que, enquanto nos faz capazes de descrever nossa natureza também impede de apreciar sem enfadonhos tudo que somos capazes de, por fim, entender plenamente?

Poderia alguém reprimir tão desgostosa condição?

Possível ser essa a consistência das doutrinas pregando a libertação da mente. Libertar-se não passaria de uma animalização em busca da felicidade. Mesma animalização bela por vezes encontrada na falta de ciência das pessoas que conseguem transmitir sabedoria mesmo sem conhecer palavras sábias. Nesses instantes, a vida é um mistério que, por sua natureza secreta, nos faz mais felizes.

Deve haver explicações escondidas dentro de mim, mas não carrego arrependimentos.

2 Comments:

Blogger Bruno said...

Bom, Nenê, quanto à linguagem acho que já te disse. Você não faz concessões, não facilita pra gente, mas também não inova! Parece que é o gênero mesmo, como cronista você toma uma distância um tanto burocrática, nem parece o cara do "arco-íris preto e branco". Baixa alguma coisa do Rubem Braga ai, o maior cronista brasileiro, ou Vinícius, Drummond, coloca um tom mais maroto nessa conversa! Mas se não quiser abrir mão disso, está certo. Ainda assim precisa desatravancar as sentenças, permita-se certo coloquialismo, não vai soar vulgar, juro.
Quanto ao argumento, ótimo. A busca da felicidade, essa preocupação que nos afasta da verdadeira felicidade, o paradoxo do homem de conhecimento cada vez mais vazio, tem muito apelo. Gostei. Mas lembre-se, a última palavra é sempre sua ( e se levar pro lado pessoal toma uma bifa!)
Abração!

10:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Olha nao sou animal pq eu comento desde quando conheci este lugar =P hahha
mas brincadeiras a parte eu nao posso comentar sobre esse texto pq eu nao entendi (eh, acho que sou uma animal no final das contas =/)
Bjs!

2:03 PM  

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